Pais Reativos vs. Pais Proativos

A cena é clássica: os pais preparam uma refeição com todo o carinho para o filho pequeno, mas, em vez de comer, ele passa a brincar com a comida. Momentos depois, joga o prato no chão.

Situações como essas colocam uma questão fundamental para pais e mães: o que fazer quando comportamentos difíceis acontecem?

Em muitos casos, quando os filhos exibem comportamentos difíceis, os pais simplesmente reagem com base no seu próprio estado de disposição e de humor. Ou seja, se o filho atira a comida ao chão bem naquele dia em que a mãe está cansada, irritada e com vários problemas para resolver, é comum que ela reaja a esse comportamento com impaciência. Em um dia melhor, no qual ela está mais alegre e descansada, pode reagir com mais calma e tranquilidade.

Os pais que atuam sobre o comportamento dos filhos a partir do seu próprio estado de espírito são chamados de pais reativos.

Existem quatro problemas em ser um pai reativo:

1. Suas respostas são inconsistentes: A reação dos pais a situações semelhantes varia a depender do humor em que se encontram no momento. Com isso, os níveis de tolerância a determinados comportamentos oscilam, o que gera confusão na cabeça dos filhos. Afinal, qual é a regra?

2. Reações emocionais são pouco construtivas: Uma reação emocional raramente contribui de forma positiva para a formação dos filhos. Pelo contrário: uma atitude explosiva acaba servindo de mau exemplo, demonstrando que esse tipo de conduta é aceitável. Lembre-se: os filhos tendem a imitar os pais.

3. Cedem ao ciclo da ação e reação: Pais reativos criam uma situação de escalada de tensão, uma espécie de jogo de ação e reação: a criança joga o prato no chão, o pai reage a isso gritando, o filho então reage ao grito com um choro estridente, que faz o pai ficar ainda mais nervoso, e assim por diante.

4. Padrão de interação tóxico: Quando o ciclo reativo ocorre com frequência, esse padrão de interação acaba se cristalizando, estabelecendo um padrão de convivência tóxico para toda a família.

Reatividade versus proatividade

Se simplesmente reagir ao que os nossos filhos fazem não é uma boa ideia, então qual é a alternativa?

A alternativa para a reatividade é a proatividade.

Mães e pais proativos são aqueles que refletem sobre a educação de seus filhos, e têm interesse em ler, estudar e discutir sobre a maneira como cuidam deles. Com isso, eles definem a sua filosofia de educação de filhos, conquistando uma visão mais clara acerca do que gostariam de transmitir.

A vantagem de ter uma filosofia de educação de filhos bem definida é que, quando os comportamentos difíceis acontecem, nós estamos melhor posicionados para entender e utilizar esse momento como uma oportunidade para ensinar as competências e valores que consideramos importantes.

Para explicar melhor o que isso significa na prática, vamos voltar ao momento em que o filho jogou a comida no chão. Se os pais dessa criança entendem, a partir de suas reflexões, que é importante ensinar a competência da comunicação, então eles podem usar esta situação como uma oportunidade para ajudar o filho a se expressar melhor. Neste exemplo, eles podem fazer uma pausa, se sentar ao lado do filho, acalmá-lo e tentar estabelecer um diálogo, ensinando ao filho uma forma mais construtiva de manifestar seus sentimentos e frustrações.

Observe como esta é uma maneira melhor de abordar a situação. Quando somos reativos, somos inconsistentes e não aproveitamos as situações de aprendizado. Por outro lado, quando somos proativos, deixamos as emoções de lado e agimos com base em nossa filosofia, que é um guia muito melhor. Por fim, a proatividade conduz a criança para um estado mais construtivo, onde imperam a calma e o diálogo.

É evidente que ninguém consegue agir com serenidade em todos os momentos, por um motivo muito simples: antes de sermos pais, somos seres humanos, e não existem humanos perfeitos. Todos temos limites que, quando ultrapassados, nos fazem agir de maneira reativa. O importante é resistir a isso ao máximo, apostando em uma abordagem lúcida, intencional e proativa, que realmente contribua para o desenvolvimento de nossos filhos.

Para navegar por terrenos difíceis nós precisamos de uma bússola. E uma filosofia educacional bem definida é a bússola que nos orienta pelos meandros da formação dos nossos filhos.


Este texto foi elaborado pela equipe de redação da Bittar Educação com base no Episódio #001 do podcast do Dr. Estêvão Bittar. Você pode assistir ao episódio completo clicando aqui.

Dr. Estêvão Bittar

Doutor em neurociências pela USP e vice-presidente da Bittar Educação.
Oferece reflexões e dicas sobre educação de filhos, do ponto de vista das neurociências.

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